quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Odetinha: candidata carioca aos altares

Raquel Araujo

A pouco mais de uma semana da abertura do processo canônico de Odette Vidal de Oliveira — “Odetinha”, o Vigário Episcopal para os Institutos de Vida Religiosa, Sociedades de Vida Apostólica e Novas Comunidades, Dom Roberto Lopes, que está à frente dos trabalhos, deu mais detalhes de como será o inicio oficial do processo arquidiocesano, a realizar-se na próxima sexta-feira, 18 de janeiro, durante a trezena em honra a São Sebastião. As relíquias de Odetinha permanecerão na Igreja Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, até o dia 20 de janeiro, quando estarão presentes na procissão do Padroeiro da cidade.
— No dia 18, às 11 horas da manhã, Dom Orani vai fazer a instalação do Tribunal. Nesse tribunal, a nível diocesano, serão nomeados todos aqueles que irão trabalhar intensamente. Existe toda uma equipe de peritos, de padres, que também serão convidados para esse serviço. Essa é a primeira etapa do processo, a nível diocesano. Então, às 11 horas não será uma celebração Eucarística, mas um ato canônico, por meio do qual será instituído o Tribunal. Depois, as suas relíquias permanecerão na Igreja Nossa Senhora da Glória até o dia 20, afirmou.
Segundo Dom Roberto, há uma programação especial na Igreja Nossa Senhora da Glória para o dia 18 de janeiro: missas às 17h e às 18h. Essa última voltada para as famílias:

— Quero celebrar a missa das 18h de uma forma mais catequética, inclusive convidando as famílias, os casais. Porque, na realidade, se hoje Odetinha é uma candidata à santidade para uma canonização, é porque ela é fruto de um casal que passou os verdadeiros valores da Igreja, tão necessários nos dias de hoje. (...) Uma vez que estamos no Ano da Fé, o Papa já nos disse que temos que colocar nas mãos dos nossos filhos a bíblia, o catecismo da Igreja Católica e transmitir essa fé com o próprio exemplo e testemunho, disse.

Já no sábado, 19 de janeiro, haverá missas às 7h, 8h e 9h, terço da Odetinha às 15h, missa às 17h e encerramento 20h. No domingo, as relíquias deixam a Paróquia Nossa Senhora da Glória após a Celebração Eucarística das 7h30min, em direção à Igreja de São Sebastião, na Tijuca.

— Iremos conduzir as relíquias até a Paróquia de São Sebastião, na Tijuca, onde será celebrada a missa das 10h. Depois, à tarde, haverá a procissão e as relíquias serão conduzidas até a Catedral, onde, novamente, haverá Missa e, ao término, elas serão levadas em carreata até a Basílica da Imaculada Conceição, em Botafogo, onde serão depositadas. Lá já está sendo preparada uma urna, onde as relíquias ficarão até toda essa tramitação do processo, explicou.
As etapas de um processo de canonização
Antigamente, somente o Papa podia promover uma causa de canonização, mas hoje em dia, os bispos têm autoridade para isso. Portanto, em qualquer diocese do mundo pode-se iniciar uma causa de canonização.

Para cada causa é escolhido pelo bispo um postulador, espécie de advogado, que tem a tarefa de investigar detalhadamente a vida do candidato para conhecer sua fama de santidade.

Quando a causa é iniciada, o candidato recebe o título de Servo de Deus. O primeiro processo é o das virtudes ou martírio. Esse é o passo mais demorado porque o postulador deve investigar minuciosamente a vida do Servo de Deus. Em se tratando de um mártir, devem ser estudadas as circunstâncias que envolveram sua morte para comprovar se houve realmente o martírio. Ao terminar este processo, a pessoa é considerada Venerável.

O segundo processo é o milagre da beatificação. Para se tornar beato é necessário comprovar um milagre ocorrido por sua intercessão. No caso dos mártires, não é necessária a comprovação de milagre.

O terceiro e último processo é o milagre para a canonização, que tem que ter ocorrido após a beatificação. Comprovado esse milagre, o beato é canonizado e o novo Santo passa a ser cultuado mundialmente.

Breve Histórico

Odette Vidal de Oliveira nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 15 de setembro de 1930. Chamada carinhosamente pelos pais de “Odetinha”, lírio de pureza e caridade, dotada de um amor extraordinário a Jesus Eucarístico, ia à missa com sua mãe. Desde muito pequena, aos quatro anos, já possuía colóquios íntimos com o Senhor Sacramentado.

Tendo se mudado para o bairro de Botafogo, na zona sul do Rio, fez a sua Primeira Comunhão no Colégio São Marcelo, da Paróquia Imaculada Conceição, ao lado de sua casa, em 15 de agosto de 1937, aos sete anos de idade. Desde então, ao receber a comunhão, dizia: “Oh meu Jesus, vinde agora ao meu coração!”. Seu confessor atestou sua fé viva, confiança inabalável, intenso amor a Deus e ao próximo.

Demonstrou profunda caridade para com os pobres e a busca da santidade de forma impressionante e extraordinária para uma criança tão nova. Inserida de fato na causa de promoção dos mais carentes, gostava muito de ajudá-los com obras concretas de misericórdia, e atividades caritativas semanais (sua mãe fazia uma feijoada aos sábados para os pobres a seu pedido e ela colocava seu avental e servia a todos alegremente). Irradiou e inspirou uma imensa obra social, assumida com seriedade pelos seus pais, tornando-os grandes apóstolos da caridade por toda sua vida. Estes colaboraram efetivamente com muitos Institutos de Vida Religiosa, salvando alguns da falência, além do trabalho com as meninas órfãs (um pedido de Odetinha), até hoje administrado por religiosas e voluntários.

Sua piedade explica o segredo de todo o bem que realizou com máxima paciência, admirada por todos até o fim. A modéstia e o pudor foram um grande sinal de uma alma pura e boa, nos divertimentos mais inocentes de sua infância. Amava os lírios e rezava o terço diariamente, revelando, assim, sua confiança total em Nossa Senhora. Queixava-se, ainda, pelo fato de São José, que tanto trabalhou e sofreu por Jesus e Nossa Senhora, ser tão pouco honrado.

Nos últimos quarenta e nove dias de sua vida sofreu dolorosa enfermidade – paratifo, suportada com paciência cristã. No leito de dor, dizia: “Eu vos ofereço, ó meu Jesus, todos os meus sofrimentos pelas missões e pelas crianças pobres (Cf. Ef. 5, 1-2)”. No dia de sua morte, ocorrida em 25 de novembro de 1939, Odetinha recebeu a Sagrada Comunhão às 7h30min e na ação de graças disse: “Meu Jesus, meu amor, minha vida, meu tudo”. Assim, serenamente, às 8h20min entregou sua alma inocente a Deus.

Ele escolhe tantas vezes os pequeninos para tornar mais evidente as maravilhas de sua Graça. “Foi arrebatada para que a malícia não lhe mudasse o modo de pensar ou para que as aparências enganadoras não seduzissem a sua alma”. (Sb. 4,11).

Seu túmulo situa-se na quadra 06, n.º. 850, no Cemitério São João Batista (Botafogo). Até hoje é um dos mais visitados, sobretudo aos sábados e domingos, por inúmeras pessoas que ali acorrem para agradecer benefícios espirituais e temporais que atribuem à sua intercessão junto a Deus. Sua biografia oficial, lançada no ano seguinte de sua morte pelo Padre Afonso Maria Germe, causou grande comoção na sociedade carioca.

Eis como Odetinha rezava seu “Tercinho de amor”: nas contas pequenas – “Meu Jesus eu vos amo!”; nas contas grandes – “Quero passar meu céu fazendo bem à terra”; nas três últimas contas – “Meu Jesus, abençoai-me, santificai-me, enchei o meu coração de vosso amor”.

Oração

Ó querido Jesus, que escolhestes as criancinhas, curando-as e as abençoando, demonstrando particular predileção por elas, que Vos louvam com um louvor perfeito e revelando, assim, o Reino de Deus aos menos favorecidos da sociedade, aos simples e aos humildes.

Olhai com carinho nosso pedido, pelos méritos infinitos de Vosso Santíssimo Coração e do Coração Imaculado da Santíssima Virgem que, se for para a Vossa maior Glória e bem de nossas almas, Vos digneis glorificar, diante de toda a Igreja, a menina Odete Vidal de Oliveira (Odetinha), lírio de pureza e caridade da Igreja Particular de São Sebastião do Rio de Janeiro e exemplo de vida para o povo de Deus.

Unidos em Comunhão eucarística e guiados pela doçura do Espírito Santo, concedei-nos, por sua intercessão, a graça que Vos pedimos. Amém.

Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória ao Pai.


* Colaboração: Cláudia Brito
* Fotos: Marcylene Capper e Carlos Moioli
* Fonte: Portal da Arquidiocese do Rio de Janeiro