Vivemos tempos
especiais, em que grandes momentos de evangelização acontecem ao mesmo tempo, e
grandes desafios nos são lançados.
Nessa
semana que finda, o Papa Francisco celebrou a missa de ação de graças pela
canonização do “Apóstolo do Brasil”, José de Anchieta. Além de sua influência
na história de nosso país e também da cidade do Rio de Janeiro, ele foi um
jovem cristão que soube enfrentar desafios e anunciar o evangelho em condições
as mais diversas no início da presença portuguesa em nosso país.
No final desta semana iremos celebrar o
Domingo da Misericórdia quando, em Roma, o Papa Francisco irá canonizar os
Papas João XXIII e João Paulo II. Homens de Deus, nossos contemporâneos que são
exemplos de vida cristã para nós. São sinais colocados em nossos horizontes
para que encontremos também nós o caminho da santidade.
A oitava da Páscoa nos faz refletir
sobre os acontecimentos da Semana Santa, a bela participação do povo de Deus em
massa em todas as celebrações, e os desafios de nossa presença em situações
extremas dessa grande cidade cheia de desafios.
Tive
a oportunidade de celebrar o Tríduo Pascal em algumas comunidades, levando a
todos a certeza de que a vida venceu a morte! O encontro com o povo nessas
comunidades sempre é muito carinhoso, ao mesmo tempo em que nos compromete com
suas causas e sonhos.
Somos chamados a viver testemunhando o
Cristo Ressuscitado. Somos chamados a viver a missionariedade como sal da terra
e luz do mundo.
Celebramos a vida, morte e ressurreição
de Jesus – o mistério pascal. Celebramos o centro da nossa fé. O Filho de Deus,
o Verbo Eterno que se fez homem, veio nos trazer a vida. A Sua presença sempre incomodou, incomoda e
incomodará porque nos ensina a estar no mundo sem ser do mundo. Jesus vai dar a
sua vida, vai se entregar e vencer a morte com a sua morte-ressureição, que nos
dá a certeza de que, por mais que o mundo rejeite Jesus Cristo, sempre a vida e
a ressurreição triunfam.
A Igreja vive em meio a dificuldades e
perseguições, vive na diversidade de situações, pois nós trazemos em vaso de
barro uma Palavra que é de uma riqueza imensa – Deus amou o mundo mandando o
seu Filho Jesus para nos salvar.
Estar no mundo sem ser do mundo,
procurar viver a caridade sem ser uma ONG, e sim cristãos comprometidos com
Cristo e com os irmãos. São desafios antigos e novos sempre presentes.
Celebramos a Páscoa com alegria e
continuamos a fazê-lo por oito dias solenemente, e, depois, até Pentecostes
como um tempo especial de festa e anúncio alegre. A liturgia nos atualiza no
sentido de que temos Jesus, esse Jesus que incomodou, que queriam eliminá-Lo e
que Ressuscitou. A nossa vida não é diferente: estamos no mundo, no trabalho,
no estudo, na realidade cultural, porém, nós trazemos uma Palavra que é vida e
salvação. O Evangelho nos ensina como viver como cristãos hoje: renovação das
promessas batismais, para sermos sinais de que em Jesus Cristo se
encontra a verdadeira vida, testemunhamo-lo, proclamamo-Lo. Em qualquer
situação somos chamados a ser testemunhas Daquele que é vida, para poder ser
sinal de Jesus Cristo na sociedade.
Proclamemos
o Evangelho com a palavra, o testemunho ao estar no meio do mundo, anunciando o
mundo novo que é Cristo.
No
âmbito do Ano da Caridade da nossa Arquidiocese, devemos lembrar que a primeira
maneira de viver a caridade é ser caridoso com o próximo. E amar o próximo
requerer uma conversão profunda, deixar de lado as amarras do pecado e viver a
luz do mundo, que é o Cristo Ressuscitado! A Igreja se compromete com o outro
não só com as suas preocupações materiais, mas principalmente com o sentido
último de sua vida e o valor de sua própria pessoa enquanto filho de Deus, que
no fundo é viver como cristãos.
Na Vigília Pascal renovamos
as promessas batismais. Fomos preparados pela Quaresma seja como tempo de
penitência, seja com as reflexões litúrgicas, em especial com o tema da água,
da luz, da ressurreição. Eis que chegamos ao cume do ano litúrgico e a Igreja
nos conduz a reavivar esse grande dom de Deus em nossas vidas: o nosso Batismo,
o ser cristão.
Ao falar sobre a água,
recordemos o diálogo com a Samaritana. Jesus iniciou o seu diálogo com ela
mesmo que os seus discípulos ficassem estupefatos. Ele disse à estrangeira: "Dá-me
de beber” (cf. Jo 4,7). Aqui fica um questionamento importante: por que eu
vivo, qual a razão de minha vida, da verdadeira vida?
Devemos viver a nossa vida
iluminados por Cristo. A Samaritana, pela sua vida, pelo seu comportamento
imoral, sai mostrando aos outros que o Messias que ela encontrou chamou-a a
viver uma vida completamente nova. Apontar o pecado dos irmãos deve ser para
que o pecador saia do pecado e procure viver uma vida nova, iluminado
completamente por Cristo.
Quem encontra Cristo, a
água viva, vive uma vida nova e testemunha Jesus. Por isso, outros vêm ver
Jesus pelo testemunho da Samaritana, uma estrangeira, uma pecadora pública. A
Palavra viva é decisiva para que toda pessoa que tenha sede da Palavra de Deus
possa viver e encontrar os caminhos de uma vida iluminada.
Nosso Senhor Jesus Cristo
nos dá uma nova vida que renova, que transforma, que tira água viva da Pedra e
que sempre dá a possibilidade de um recomeço. Tantos são os corações
petrificados que se transformam em água viva pela graça de Deus. Devemos, pois,
enxergar o chamado da conversão, somos testemunhas de Jesus Cristo na
sociedade.
Somos convidados a ser
pessoas que encontraram razões para se encontrar com Jesus Cristo.
Somos chamados a ser luzeiros
da esperança, de vida nova, iluminando o ambiente de trabalho, os vizinhos, os
amigos como alguém que encontrou a vida nova, como autênticos
discípulos-missionários.
No final do episódio da
Samaritana está o resultado de quem é iluminado por Cristo: "Já não cremos
por causa das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é
verdadeiramente o salvador do mundo” (cf. Jo 4,42). Essa maturidade de quem se
encontra com o Senhor: vimos e ouvimos que este é o Filho de Deus, fazendo a
experiência do Senhor que nos chamou, e nós encontramos a verdadeira vida em Jesus Cristo.
Agora, depois de renovarmos
as promessas do nosso Batismo, somos chamados à santidade e a testemunhar o
Redentor no mundo, amadurecendo nosso itinerário de fé, nossa caminhada
pastoral, e encontrar Jesus Cristo Ressuscitado.
A pedra do sepulcro que
foi removida, o túmulo vazio, os encontros com o Ressuscitado nos sejam
atualizados em nossas vidas, hoje, para sermos como os primeiros discípulos:
testemunhas da Ressurreição! Assim como São Jorge, Anchieta, João XXIII, João
Paulo II e tantos outros, estejamos no mundo vivendo o nosso Batismo, sendo sal
e luz proclamando a vida de Cristo nessa sociedade tão injusta e carente. O
horizonte é vasto. A missão é enorme! Estejamos unidos nesse belo e importante
trabalho para o bem e salvação das pessoas. Continuemos a viver com alegria o
tempo pascal, e que, um dia, cheguemos juntos à Páscoa eterna.
† Orani João,
Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ