sexta-feira, 15 de novembro de 2013

“Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em Mim não fique nas trevas” (Jo 12, 46)

          Com esta citação da Escritura Sagrada, o Papa Francisco iniciou a sua primeira encíclica, Lumen Fidei, que trata do tema da “fé”. Nesta passagem de São João percebemos que o próprio Cristo se apresenta como luz, luz que vem para iluminar o caminho dos homens, a fim de que estes não permaneçam nas trevas, mas enxergando o caminho da vida, que também é o próprio Cristo, possam se deixar conduzir por Ele. Há mais de dois anos, em outubro de 2011, o grande predecessor do Papa Francisco, o Papa Emérito Bento XVI, com a Carta Apostólica Porta Fidei proclamou a abertura do Ano da Fé para outubro de 2012, declarando que a fé é uma “porta” que “está sempre aberta” para todos aqueles que por ela desejarem entrar (cf. Porta Fidei, 1).
            É significativo que o encerramento de um pontificado e o início de outro se tenham dado nesse contexto do Ano da Fé. A continuidade do ministério petrino, sinal de unidade da Santa Igreja na mesma fé, nos mostra como a mesma fé não é algo que se cria, nem se inventa, mas é como um rio de água pura e salutar que nos é transmitido geração a geração. A nossa função na Igreja é beber desse rio, a fim de termos também uma fé pura e salutar; e conservar incólume as águas desse rio, a fim de que as gerações futuras possam também dele beber recebendo a fé verdadeira, não maculada por desejos carnais de manipulação da mesma fé.
            Muitas atividades foram realizadas neste Ano da Fé, cumprindo-se o desejo da Igreja de que este fosse um tempo de aprofundamento, de reflexão e de crescimento na ciência sagrada. Todavia, devemos destacar que o encerramento do Ano da Fé não pode ser também o encerramento destas mesmas atividades. O Ano da Fé é uma espécie de “provocação”, a fim de que possam crescer na Igreja iniciativas cada vez mais amplas de crescimento no conhecimento do conteúdo da fé. Agora, é justamente o momento de seguir em frente. Temos de ser impulsionados a abrir novas frentes de ação, para que aqueles que não conhecem a fé, e aqueles que dela comungam sem a conhecer em profundidade, possam ter a chance de conhecer a beleza do seu conteúdo e, assim, iluminados por Cristo, seguir por este caminho, que é o único que conduz à verdadeira vida e à bem-aventurança eterna.
            Já foi anunciado que para nossa Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, como está proposto no Plano de Pastoral, o ano de 2014 será o “Ano Arquidiocesano da Caridade”. Este ano da caridade que estamos preparando está em conexão íntima com o Ano da Fé. Não só por que se trata também de uma das três virtudes teologais, mas porque o próprio Papa Emérito Bento XVI nos recordou na Porta Fidei n. 14 que: “A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra de realizar o seu caminho.” A caridade, virtude sumamente elogiada por São Paulo em 1Cor 13 e colocada pelo mesmo apóstolo como sendo a medida dos carismas, deve ser entendida em seu sentido amplo. Ela é como a alma de toda ação verdadeiramente cristã, desde aquelas de assistência social até as de ensino, uma vez que corrigir os ignorantes é também uma ação verdadeiramente “caritativa”. Começaremos a viver ainda mais intensamente o Ano da Fé movidos pela reflexão e pelo exercício concreto da virtude da caridade no ano de 2014. Ela nos ajudará a realizar todas as nossas ações unicamente por amor a Cristo e aos irmãos.
            O Ano da Fé será encerrado em nossa Arquidiocese no próximo dia 23 de novembro, com a Primeira Festa Arquidiocesana da Unidade, em nossa Catedral de São Sebastião a partir das 13h30min.
            Desejamos vivamente que o encerramento do Ano da Fé não seja ocasião para a simples passagem de uma reflexão a outra, ou de um ano temático ao outro. Desejamos que as sementes plantadas no Ano da Fé possam, sim, dar frutos, regadas pela água viva da caridade, a fim de que, de virtude em virtude possamos crescer sempre mais, até atingirmos o estado de “homens perfeitos”, homens e mulheres à estatura da maturidade de Cristo (Ef 4,13).

                                              † Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ