sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Evangelho: Tira primeiro a trave do teu olho

Lc 6,39-42


Ele contou-lhes, também, uma parábola: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois no buraco? O discípulo não está acima do mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre. Por que observas o cisco que está no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho? Como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.

COMENTÁRIOS

Autocrítica e misericórdia.
Nós não temos acesso ao contexto histórico original em que Jesus contou cada uma das parábolas. Em nosso caso, é o contexto literário que deve ser levado em consideração. Em razão disso, a parábola que nos é proposta para hoje deve ser compreendida à luz das exigências precedentes que formam o conteúdo do sermão da planície. O “guia cego” é o discípulo que não aceita a sua condição de servo e não se submete ao ensinamento do seu Mestre; por isso, não vê os seus semelhantes com o olhar de misericórdia de Jesus. É, ainda, aquele que resiste à identificação com o Senhor (v. 40; Mt 10,24-25). O texto reflete um problema interno à comunidade dos discípulos, mas que podemos estender a todos os âmbitos da vida humana: a crítica aos outros desprovida de autocrítica e de verdadeira misericórdia. A parábola da palha e da trave (vv. 41-42) apela para a necessidade de autocrítica e de misericórdia. A trave não permite enxergar bem, ela distorce e diminui a visão, e até mesmo a impede. Um comportamento desses cria uma situação ainda pior. Certamente a preocupação que o evangelho traduz é a tensão interna à comunidade cristã entre os cristãos comuns e aqueles que se sentem mais iluminados e pretendem instruir os outros na vida espiritual e na ética cristã. Para poder ajudar alguém é preciso humildade e consciência dos próprios limites.

Carlos Alberto Contieri, sj