sexta-feira, 15 de abril de 2011

“Rio”, divertimento para todas as idades


O que encanta na criativa animação “Rio”, de Carlos Saldanha, é a sua simplicidade e a forma de se comunicar com qualquer platéia, não importa se de adultos ou crianças. Como todas as fabulações, tem também seu lado de exemplaridade. No fundo, defende uma boa causa, a preservação de uma espécie em vias de extinção, e, ao mesmo tempo, denuncia o tráfico de animais e alguns dos males que atrapalham as relações humanas e políticas no nosso planeta. É uma história edificante, com uma positiva ingenuidade e algo de um olhar estrangeiro difícil de ser evitado tratando-se uma produção americana. É certo que Carlos Saldanha busca, de modo sincero, mudar a imagem do país e do Rio de Janeiro, em particular. Coloca-se na contramão dos recentes sucessos internacionais de filmes brasileiros que oferecem imagens da violência social e dos atávicos problemas de uma sociedade ainda muito desigual, como a nossa. De qualquer modo, “Rio” nos seduz por sua alegria e contagiante arrebatamento para um lugar de sonhos, indicando, talvez, que um outro mundo ainda é possível. Travestido nas simpáticas figuras das araras, dos pássaros, dos malvados macaquinhos a serviço do mal, e tantas outras espécies viventes, o discurso do filme nos transporta para um lugar romântico com as características das narrativas de final feliz.

O extraordinário trabalho de animação, que se utiliza dos meios tecnológicos mais avançados, tem também a sofisticação de vozes célebres que encarnam esses personagens do mundo animal. A conjugação de animação com sonoridades é, aliás, um dos grandes trunfos do filme. Carlos Saldanha soube construir uma narrativa que preenche quase todos os sentidos humanos. Não se tem muito claro, nas projeções brasileiras, o que é a verdadeira terceira dimensão, como linguagem cinematográfica. Talvez devamos esperar as experiências pioneiras do cineasta alemão Wim Wenders que está pesquisando o 3D para seus futuros filmes, a partir do recente que realizou Pina Bausch e onde inseriu seqüências com essa tecnologia. Ainda assim, o espetáculo de Carlos Saldanha ressalta alguns efeitos que dimensionam as nuances que um bom uso das tecnologias digitais pode proporcionar ao espectador.

“Rio” é um filme para todas as idades com evidentes reflexos numa consciência ecológica renovada pelos cuidados que todos devemos ter com o Planeta que nos abriga, humanos e não humanos. Assim, além de uma divertida aventura animada, o filme de Carlos Saldanha também nos conduz ao reforço das mentalidades ecologicamente corretas.

*Miguel Pereira é professor da PUC-Rio e crítico de cinema

*Fonte: Portal da Arquidiocese do Rio de Janeiro.