terça-feira, 5 de abril de 2011

Dia em homenagem a autistas ilumina o Cristo Redentor

2 de abril foi a data escolhida como o Dia Mundial de Conscientização da Síndrome que avança em número de casos no mundo. Na noite da última sexta-feira, 1º de abril, o Cristo Redentor ficou na cor azul para alertar a população sobre o avanço do autismo. Também aos pés do monumento, uma celebração presidida pelo Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio Dom Antonio Augusto Duarte destacou a importância do amor para enfrentar a síndrome. Além de Dom Antonio e do Reitor do Santuário Cristo Redentor, Padre Omar Raposo, representando toda a Igreja no Rio, políticos, como o Prefeito Eduardo Paes e o Senador Lindberg Farias (PT-RJ), estiveram no alto do Corcovado. Membros da sociedade organizada em defesa dos autistas e dezenas de pais de autistas compareceram ao evento. Dom Antonio realizou a Oração do Ângelus e destacou que o sofrimento desperta o amor e move a solidariedade. Segundo ele, só com a civilização do amor é que haverá justiça. - Estamos aos pés do Cristo Redentor, aquele que soube sofrer com amor e por amor, acrescentou o Bispo. Um momento de grande emoção foi quando Saulo Lucas, cantor tenor que é portador da doença e também deficiente visual, entoou a Ave Maria. Seu pai, Erivaldo Pereira, deu um testemunho de amor e superação. “A base do tratamento é o amor” - A família do autista sente uma dor única, que as pessoas não conseguem dimensionar. Por isso, faço um apelo para que as autoridades se sensibilizem e dêem respaldo principalmente para as pessoas carentes. O governo precisa preparar professores, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas, para dar o tratamento adequado aos autistas. Já a família deve priorizar o amor, base de todo o tratamento, disse Erivaldo. Ulisses da Costa é pai do Rafael, 15 anos, que é autista. Otimista com a repercussão do evento, ele disse que o Cristo em azul se resume na luta da qual muitos pais, no passado, não puderam participar. - Nossa presença hoje, aqui, é a certeza de que, em breve, o Brasil terá uma lei específica para tratar essas crianças. Nós precisamos, hoje, de diagnóstico precoce na rede pública de saúde. Precisamos criar centros com tratamento multidisciplinar e, futuramente, aqueles autistas que perderem pai e mãe vão precisar de residências assistidas, pois não conseguem tomar conta de si, disse Ulissses. Ele explicou, assim como outros pais presentes, que um momento de muita dor e angústia é quando eles percebem que seus filhos sofrem, mas a área médica não dispõe de informações para detectar o autismo. Nessa luta também estava Ana Guimarães, do grupo Caminho da Esperança, mesmo não tendo nenhum familiar com a síndrome, ela, num gesto fraterno, fez questão de apoiar a iniciativa. - O ser humano está tão voltado para a violência que esquece o que está acontecendo na intimidade doméstica. Um movimento como esse é importante para recordar o sofrimento de pessoas que estão enclausuradas num corpo que é perfeito, mas que não pode se comunicar através dele. Por isso, se a gente se voltasse um pouco para a solidariedade humana, o mundo seria muito melhor, afirmou. Apesar do aparente apoio das autoridades brasileiras à causa, pais de autistas ainda travam, praticamente sozinhos, uma grande luta contra a falta de estrutura e investimentos do setor público na prevenção e diagnóstico da síndrome no país. Instituições privadas ligadas à causa, formadas geralmente por familiares de autistas, alertam que sobram casos de crianças com os sintomas, enquanto faltam diagnósticos, tratamentos, legislação, informações, pesquisas e estatísticas. A Bioquímica Mariel Mendes Lopes, da Universidade Federal Fluminense, é diretora da Associação em Defesa do Autista (Adefa). Presente ao Corcovado, ela explicou que nos EUA, por exemplo, o autismo já é considerado oficialmente uma epidemia, enquanto no Brasil sequer há estatísticas oficiais de ocorrência de casos. - Foi importante os políticos reconhecerem que há um descaso com o autismo e se colocarem à disposição para iniciar um trabalho conosco, principalmente no sentido de criar políticas públicas adequadas para o diagnóstico e o tratamento do autismo. Sintomas Mariel disse que um aspecto importante no diagnóstico de autismo é que, aparentemente, todas as crianças nascem normais, e vão adquirindo os sintomas aos poucos, por volta dos dois anos de idade. Ela ressaltou entre as principais características do autismo, a falta de interação com o mundo exterior – inclusive com os próprios pais ­- a agressividade, a concentração excessiva em atividades isoladas e repetitivas, e até mesmo a autoagressão. Na noite de 2 de abril, o Cristo permanecerá azul. Iluminar o monumento símbolo da Cidade e do amor de Deus foi a forma encontrada para chamar a atenção das pessoas sobre o avanço do autismo. Fonte: Portal da Arquidiocese do Rio de Janeiro