Deus criou o homem e a
mulher, com suas diferenças, e os colocou no centro da criação. Criou-os por
amor e para o amor. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do
ser humano. Deus ama incondicionalmente cada ser humano e quer levá-lo à plena
realização do seu plano de amor. O matrimônio é uma das possibilidades de
realização e felicidade do ser humano.
Homem e mulher, mediante o sacramento
do matrimônio, são chamados a viver a íntima comunhão de vida e de amor
conjugal na totalidade do corpo e do espírito. É o que nós chamamos de amor
conjugal cristão. Entretanto, precisamos entender o verdadeiro sentido do amor,
tão deturpado hoje, sobretudo pelas ideologias que querem
relativizar a sacralidade matrimonial! Eis o significado do amor cristão:
Querer bem, sem querer nada do outro.
O amor cristão é gratuidade e doação! Amar é fazer o
outro feliz! A ferramenta da Igreja para auxiliar no discernimento matrimonial
dos noivos é o encontro de preparação para o casamento (popularmente conhecido
por “cursos de noivos”), o qual tem como objetivo: sensibilizar os noivos para
optarem livre e conscientemente pelo sacramento do matrimônio, baseados no
verdadeiro amor conjugal cristão. É claro que essa preparação próxima supõe uma
vida cristã anterior, com um aprofundamento da fé que torne a vida um
testemunho de Cristo Ressuscitado. Precisamos sempre olhar a família dentro do
projeto original de Deus. O matrimônio é sacramento porque é um sinal
visível da aliança entre Deus e seu povo e de Cristo com sua Igreja. O Código
de Direito Canônico oferece um conceito de matrimônio muito simples e útil: “A
aliança matrimonial pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma
comunhão para a vida toda é ordenada por sua índole natural ao bem dos cônjuges
e à geração e educação da prole, foi elevada, os batizados, à dignidade de
sacramento”.
O
Cristo Senhor veio para estabelecer uma nova
aliança entre Deus e a humanidade toda, congregada num novo povo, que é a
Igreja. Nesta aliança, que é nova e definitiva, o esposo é o Cristo e a esposa
é a Igreja. Esta aliança é selada no Espírito Santo, simbolizado pelo vinho
novo! Assim, podemos compreender por que o primeiro sinal de Jesus foi numa
festa de núpcias em Caná da Galileia (Jo 2,1-12). As núpcias de Caná são
imagens das núpcias do Cristo com sua Igreja, as núpcias do Cordeiro, de que
fala o Apocalipse (Ap 19,7). João não diz o nome do noivo nem o da noiva em Caná... O noivo é o
próprio Cristo, a noiva é a Igreja, simbolizada pela Virgem Maria, a Filha de
Sião; o vinho novo e bom é o Espírito que sela a nova e eterna aliança. É por
isso também que Jesus contou parábolas sobre o banquete de casamento (Mt
22,1-14), falou das virgens que esperam o noivo (Mt 25,1-13), falou em
sentar-se à mesa do banquete com Abraão, Isaac e Jacó (Mt 8,11s), e João
Batista afirmou claramente que Jesus é o Esposo que vem desposar Israel (e o
novo Israel, que é a Igreja)(Jo 3,29). Então, Cristo é o Esposo e a Igreja, a
Esposa, numa aliança de amor eterno. Por isso mesmo, o matrimônio entre um
cristão e uma cristã, entre dois batizados, é um sacramento, isto é, é um sinal
real e eficaz da graça de Cristo: o esposo cristão é, no seu amor, imagem viva
do amor do Cristo-Esposo pela Igreja-Esposa e a esposa cristã é, no seu amor,
imagem do amor da Igreja-Esposa pelo seu Cristo Jesus. É o que São Paulo afirma
de modo belíssimo na Carta aos Efésios: “Maridos, amai as vossas
mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” ... (5,21ss)
Através do sacramento
do matrimônio, o casal organiza a família como Deus quer e espera dos seus filhos.
A família cristã, no plano de Deus, é chamada a ser:
1-Uma comunidade de
amor, que se caracteriza pela unidade e comunhão, porque todo ser
humano quer amar e ser amado. A família é escola e espaço para a experiência do
verdadeiro amor que faz a alegria, a felicidade e harmonia da família.
2-Santuário da vida:
a família é a serva e protetora da vida, já que o direito à vida é a base
de todos os direitos. Este serviço não se reduz só à procriação. Porém, é antes
de tudo um auxílio eficaz para transmitir os valores autenticamente humanos e
cristãos. É o que nos lembrou a Semana Nacional da Família de 2010, cujo tema
foi: “Família, formadora de valores humanos e cristãos”.
3-Célula mãe da
sociedade: a família é escola das virtudes humanas e sociais. É no seio da
família cristã que se formam os bons e honestos cidadãos para a sociedade.
“Famílias, educai vossos filhos, para que não seja necessário punir os
adultos”.
4-Igreja doméstica: a
família é o lugar onde se acolhe, vive, celebra e anuncia a palavra de Deus. É
onde os filhos aprendem o sentido da fé, de Jesus Cristo e do amor a Deus.
A meta do casal
cristão é a santificação no matrimônio, santificar-se no matrimônio e
santificar os outros pelo matrimônio. Recordemos o que disse São João Paulo ll:
“Os dois bens mais preciosos da humanidade chamam-se: Família e Matrimônio. Por
isso, o futuro da humanidade passa pela família”. Não tenhamos, pois, medo de
constituir uma família sacramental e se abrir para a fecundidade. Que nossos
jovens valorizem e se preparem bem para o matrimônio e tenham, na alegria à
Igreja e ao mundo, filhos cristãos que transformarão o mundo
como fermento no meio da massa.
Celebremos com
alegria a Semana da Família, quando todas as pastorais, movimentos,
espiritualidades, grupos familiares se colocam a serviço da sociedade,
testemunhando e anunciando os caminhos queridos por Deus para nossa sociedade.
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ