A justiça deve ser
respeitada e deve funcionar de maneira como representada pela mitologia grega –
de olhos cerrados – para mostrar a sua imparcialidade. E, retardada pela
morosidade ou pelos muitos recursos, a justiça é negada. Decência e justiça: estamos
diante de duas grandes virtudes, que nos tempos atuais alguns não dão muita
relevância.
A palavra decência é um termo que empregamos frequentemente
em nosso idioma e que usamos para referir-se a diversas questões. Quando um indivíduo atua e se comporta em diferentes situações com
honestidade e respeita as convenções sociais estabelecidas em sua comunidade ou no contexto em que se encontre irá destacar-se por
sua decência.
O oposto a esta referência é a desonra, indecência, que
implica na perda de respeito, de estima e de honra e é, por essa razão, que várias
situações são consideradas opostas à decência.
A
desonestidade é a ação que está no caminho em frente desse sentido. A
desonestidade caracteriza-se pela ausência de ética, honra e justiça em termos
de pensar e agir. Deve-se notar que a decência, na maioria das culturas do
mundo, é considerada como um valor notável. Outro uso também atribuído à
palavra decência é o sinônimo de limpeza. A limpeza envolve o asseio, o cuidado
e a dedicação com que alguém trata algo que se apresenta. O conceito que se
contrasta a este sentido é a sujeira, porque justamente indica a impureza e a
falta de limpeza que se estabelece em algo ou alguém.
Para falar de decência, devemos tomar a
Palavra de Deus lá em 1Cor 14,40: Tudo deve ser
feito com decência e ordem. Isso porque os coríntios perguntaram a Paulo a
respeito dos dons do Espírito Santo, especialmente o de profecia e o de falar
outras línguas. Após alguns conselhos de bom senso espiritual.
Todo desequilíbrio causa indecência e desordem. A decência
tem a ver com adequação, decoro, limpeza, compostura. Por isso, sempre que
ocorre a decência, acontece a ordem. São essas virtudes, ensinadas pelo
Espírito Santo, que Paulo propõe, seja na vida comunitária, como é o caso do
culto público, seja na vida pessoal.
Decência e ordem são bênçãos do Senhor em nossa vida cristã. O
cristão decente não faz aquilo “que bem entende”. Ao consultar o Senhor e ao
depender do Senhor, ele vivencia o tempo do Senhor e a ordem do Senhor. Após
experimentar a “ordem” do Senhor, e somente após, descobrimos, admirados, a
adequação da soberania e da providência divina. Faz sentido fazer “tudo com
decência e ordem”.
A justiça é a virtude cardeal que permite uma convivência
reta e límpida entre os homens. Sem esta virtude, a convivência torna-se
impossível; a sociedade, a família, a empresa deixam de ser humanas e
convertem-se em lugares onde o homem atropela o homem. A justiça regula a
convivência da sociedade humana enquanto humana, quer dizer, enquanto baseada
no respeito aos direitos pessoais; é princípio da existência e da coexistência
dos homens, como também das comunidades humanas, das sociedades e dos povos.
Num de seus aspectos, esta virtude diz respeito às relações
com os vizinhos, com os colegas, com os amigos e, em geral, com todas as
pessoas: regula as relações dos homens entre si, dando a cada um o que lhe é
devido. Sob outro aspecto, refere-se aos deveres da sociedade para com cada
indivíduo, naquilo que este deve receber dela. Por último, regula aquilo que
cada indivíduo concreto deve à comunidade a que pertence, ao todo de que faz
parte.
Justo, no sentido pleno da palavra, é aquele que vai semeando
à sua passagem amor e alegria, e que não transige com a injustiça onde quer que
a encontre, geralmente no âmbito em que a sua vida se desenvolve: na família,
na sua empresa, na cidade em que mora... Se nos examinarmos seriamente, é
possível que descubramos na nossa vida injustiças que teremos de remediar:
juízos precipitados contra pessoas e instituições, pouco rendimento no
trabalho, injustiça no modo de tratar ou de remunerar os outros etc.
A prática da justiça e decência leva-nos a um constante
encontro com Cristo. Em última análise, praticar a justiça e decência com um
homem é reconhecer a presença de Deus nele. É por isso que também não pode
haver no cristão verdadeira justiça e decência se não estiver impregnada de
caridade; de outro modo, não faríamos mais do que amesquinhá-la. Cristo, nas
nossas relações com o próximo, quer muito mais de nós. Por isso, temos que
pedir a Ele um coração bom para praticar a justiça e a virtude da decência.
Orani
João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião
do Rio de Janeiro, RJ