Ao proclamar o Ano Sacerdotal, o Papa emérito Bento
XVI escreveu uma carta em 16 de junho de 2009, com muitos
pensamentos sobre o patrono dos Párocos, que passo a resumir em alguns tópicos.
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/letters/2009/documents/hf_ben-xvi_let_20090616_anno-sacerdotale_po.html
Com a sua fervorosa vida de oração e o seu amor
apaixonado a Jesus crucificado, João Maria Vianney alimentou a sua quotidiana
doação sem reservas a Deus e à Igreja, recorda Bento XVI
“O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus”, costumava
dizer São João Maria Vianney, o santo patrono de todos os párocos do mundo, que
no dia 4 de agosto celebramos sua memória.
A tocante afirmação do Santo Cura d’Ars permite evocar
com ternura e gratidão o dom imenso que são os sacerdotes não só para a Igreja,
mas também para a própria humanidade.
Consciente de ser, enquanto padre, um dom imenso para
o seu povo, ele dizia: “Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Jesus, é
o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia e um dos dons mais
preciosos da misericórdia divina”.
Modelo dos presbíteros
Quantos presbíteros, ao longo dos tempos, a exemplo do
Santo Cura d’Ars propõem, humilde e quotidianamente, aos fiéis cristãos e ao
mundo inteiro as palavras e os gestos de Cristo, procurando aderir a Ele com os
pensamentos, a vontade, os sentimentos e o estilo de toda a sua existência.
Como não sublinhar as suas fadigas apostólicas, o seu serviço incansável e
escondido, a sua caridade tendencialmente universal? E que dizer da fidelidade
corajosa de tantos sacerdotes que, não obstante dificuldades e incompreensões, continuam
fiéis à sua vocação: a de “amigos de Cristo”, por Ele de modo particular
chamados, escolhidos e enviados?
Grandeza do sacerdócio
Santo Cura d’Ars falava do sacerdócio como se não
conseguisse alcançar plenamente a grandeza do dom e da tarefa confiados a uma
criatura humana: “Oh como é grande o padre! Se lhe fosse dado compreender-se a
si mesmo, morreria. Deus obedece-lhe: ele pronuncia duas palavras e, à sua voz,
Nosso Senhor desce do céu e encerra-se numa pequena hóstia”. E, ao explicar aos
seus fiéis a importância dos sacramentos, dizia: “Sem o sacramento da Ordem,
não teríamos o Senhor. Depois de Deus, o sacerdote é tudo!”.
Estas afirmações, nascidas do coração sacerdotal do
santo pároco, podem parecer excessivas, porém revelam a sublime consideração
que ele tinha pelo sacramento do sacerdócio. Parecia subjugado por uma sensação de
responsabilidade sem fim: “Se compreendêssemos bem o que um padre é sobre a Terra,
morreríamos: não de susto, mas de amor”.
Santo Cura d’Ars explicava que o padre não era padre
para si mesmo, mas para todos, porque o ministério sacerdotal estava ligado à
paixão do Senhor. “Sem o padre, a morte e a paixão de Nosso Senhor não teriam
servido para nada. É o padre que continua a obra da redenção sobre a Terra. O
padre possui a chave dos tesouros celestes: é ele que abre a porta; é o ecônomo
do bom Deus; o administrador dos seus bens”, dizia.
Presença sagrada
O Santo pároco ensinava os seus paroquianos sobretudo
com o testemunho da vida. Pelo seu exemplo, os fiéis aprendiam a rezar,
detendo-se de bom grado diante do sacrário para uma visita a Jesus na Eucaristia.
“Para rezar bem – explicava-lhes o Cura –, não há necessidade de falar muito.
Sabe-se que Jesus está ali, no tabernáculo sagrado: abramos-Lhe o nosso coração,
alegremo-nos pela Sua presença sagrada. Esta é a melhor oração”.
Na educação dos fiéis para a presença eucarística e
para a comunhão, afirmava: “Todas as boas obras reunidas não igualam o valor do
sacrifício da missa, porque ela é obra de Deus”. Ele era convencido de que todo
o fervor da vida de um padre dependia da missa: “É de lamentar um padre que
celebra a missa como se fizesse uma coisa ordinária! Mas como faz bem um padre
oferecer-se em sacrifício a Deus todas as manhãs!”.
Sacramento do amor
Na França, no tempo do Santo Cura d’Ars, a confissão
não era frequente, pois a tormenta revolucionária tinha longamente sufocado a
prática religiosa. Ele procurou de todos os modos, com a pregação e o conselho
persuasivo, fazer os seus paroquianos redescobrirem o significado e a beleza da
penitência sacramental, apresentando-a como uma exigência íntima da presença
eucarística. Disponível para ouvir e perdoar, a multidão crescente dos
penitentes, primeiro da cidade e depois provenientes de toda a França, o deixava
retido no confessionário até por 16 horas por dia. Dizia-se então que Ars tinha
se tornado ‘o grande hospital das almas’. “Não é o pecador que regressa a Deus
para Lhe pedir perdão, mas é o próprio Deus que corre atrás do pecador e o faz
voltar para Ele. O bom Salvador é tão cheio de amor que nos procura por todo
lado”, dizia.
Vocação e missão
Ao ser enviado a Ars, uma pequena aldeia com 230
habitantes, o bispo tinha lhe precavido sobre a precária situação religiosa do
lugar: “Naquela paróquia, não há muito amor de Deus”.
O Santo Cura era tão convencido da sua pessoal
inaptidão a ponto de ter desejado diversas vezes subtrair-se às
responsabilidades do ministério paroquial, pois que se sentia indigno. Mas, com
exemplar obediência, ficou sempre no seu lugar, porque o consumia a paixão
apostólica pela salvação das almas, aderindo totalmente à própria vocação e
missão.
“Meu Deus, concedei-me a conversão da minha paróquia;
aceito sofrer tudo aquilo que quiserdes por todo o tempo da minha vida!” Foi
com esta oração que começou a sua missão.
Residindo na própria igreja onde todos o encontravam,
soube ‘habitar’ ativamente em todo o território paroquial: visitava
sistematicamente os doentes e as famílias; organizava missões populares e
festas dos patronos; recolhia e administrava dinheiro para as suas obras
sócio-caritativas e missionárias; embelezava a sua igreja e dotava-a de alfaias
sagradas; ocupava-se das órfãs e das suas educadoras; tinha a peito a instrução
das crianças; fundava confrarias e chamava os leigos para colaborar com ele.
Dessa forma, o Cura d’Ars, em seu tempo, soube
transformar o coração e a vida de muitas pessoas, porque conseguiu fazer-lhes
sentir o amor misericordioso do Senhor.
Orani João,
Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ