Com
esta citação da Escritura Sagrada, o Papa Francisco iniciou a sua primeira
encíclica, Lumen Fidei, que trata do
tema da “fé”. Nesta passagem de São João percebemos que o próprio Cristo se
apresenta como luz, luz que vem para iluminar o caminho dos homens, a fim de
que estes não permaneçam nas trevas, mas enxergando o caminho da vida, que
também é o próprio Cristo, possam se deixar conduzir por Ele. Há mais de dois
anos, em outubro de 2011, o grande predecessor do Papa Francisco, o Papa
Emérito Bento XVI, com a Carta Apostólica Porta
Fidei proclamou a abertura do Ano da Fé para outubro de 2012, declarando
que a fé é uma “porta” que “está sempre aberta” para todos aqueles que por ela
desejarem entrar (cf. Porta Fidei,
1).
É significativo que o encerramento
de um pontificado e o início de outro se tenham dado nesse contexto do Ano da Fé.
A continuidade do ministério petrino, sinal de unidade da Santa Igreja na mesma
fé, nos mostra como a mesma fé não é algo que se cria, nem se inventa, mas é
como um rio de água pura e salutar que nos é transmitido geração a geração. A
nossa função na Igreja é beber desse rio, a fim de termos também uma fé pura e
salutar; e conservar incólume as águas desse rio, a fim de que as gerações
futuras possam também dele beber recebendo a fé verdadeira, não maculada por
desejos carnais de manipulação da mesma fé.
Muitas atividades foram realizadas
neste Ano da Fé, cumprindo-se o desejo da Igreja de que este fosse um tempo de
aprofundamento, de reflexão e de crescimento na ciência sagrada. Todavia,
devemos destacar que o encerramento do Ano da Fé não pode ser também o
encerramento destas mesmas atividades. O Ano da Fé é uma espécie de “provocação”,
a fim de que possam crescer na Igreja iniciativas cada vez mais amplas de
crescimento no conhecimento do conteúdo da fé. Agora, é justamente o momento de
seguir em frente. Temos
de ser impulsionados a abrir novas frentes de ação, para que aqueles que não
conhecem a fé, e aqueles que dela comungam sem a conhecer em profundidade,
possam ter a chance de conhecer a beleza do seu conteúdo e, assim, iluminados
por Cristo, seguir por este caminho, que é o único que conduz à verdadeira vida
e à bem-aventurança eterna.
Já foi anunciado que para nossa
Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, como está proposto no Plano de
Pastoral, o ano de 2014 será o “Ano Arquidiocesano da Caridade”. Este ano da
caridade que estamos preparando está em conexão íntima com o Ano da Fé. Não só
por que se trata também de uma das três virtudes teologais, mas porque o
próprio Papa Emérito Bento XVI nos recordou na Porta Fidei n. 14 que: “A fé
sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento
constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal
modo que uma consente à outra de realizar o seu caminho.” A caridade,
virtude sumamente elogiada por São Paulo em 1Cor 13 e colocada pelo mesmo
apóstolo como sendo a medida dos carismas, deve ser entendida em seu sentido
amplo. Ela é como a alma de toda ação verdadeiramente cristã, desde aquelas de
assistência social até as de ensino, uma vez que corrigir os ignorantes é
também uma ação verdadeiramente “caritativa”. Começaremos a viver ainda mais
intensamente o Ano da Fé movidos pela reflexão e pelo exercício concreto da
virtude da caridade no ano de 2014. Ela nos ajudará a realizar todas as nossas
ações unicamente por amor a Cristo e aos irmãos.
O Ano da Fé será encerrado em nossa Arquidiocese
no próximo dia 23 de novembro, com a Primeira Festa Arquidiocesana da Unidade, em nossa Catedral de
São Sebastião a partir das 13h30min.
Desejamos vivamente que o
encerramento do Ano da Fé não seja ocasião para a simples passagem de uma
reflexão a outra, ou de um ano temático ao outro. Desejamos que as sementes
plantadas no Ano da Fé possam, sim, dar frutos, regadas pela água viva da
caridade, a fim de que, de virtude em virtude possamos crescer sempre mais, até
atingirmos o estado de “homens perfeitos”, homens e mulheres à estatura da
maturidade de Cristo (Ef 4,13).
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ