| |||||||
Um melodrama, narrado como uma fuga psicológica, simbolizada numa travessia de caminhão pelas estradas do Nordeste brasileiro, À beira do caminho, de Breno Silveira, é também a mistura de traços da cultura popular interiorana com o sentimento da dor causada pela perda de um ente querido. A essa dor, acrescente-se um sentimento de culpa paralisante, trazido à tona durante a longa viagem pelas estradas do interior, ao lado de um garoto que está em busca do pai e foi acolhido, nesse trajeto, como um carona um tanto incômodo. Simples em sua estrutura dramática, o filme não consegue reeditar o êxito que foi 2 filhos de Francisco, primeiro longa-metragem de ficção de Breno Silveira e um grande sucesso de público, com mais de cinco milhões de espectadores. O seu segundo longa, Era uma vez..., de 2007, apesar da coragem em abordar de modo pessoal, através de uma fábula contemporânea, as relações entre o asfalto e favela, acabou também não conseguindo a repercussão do primeiro. São filmes diferentes, é lógico. No entanto, há algo de comum entre eles: a captação de emoções à flor da pele, a partir de uma suposição de que é desse modo que acontece no mundo real.
Essa base é, sem dúvida, verdadeira. O problema é transformá-la em ações dramáticas que representem a vivência interior numa narrativa que deve sempre surpreender o espectador cinematográfico. Esta é a forma do cinema clássico. Quando se busca uma variante dessa fórmula, como, por exemplo, uma tese ou uma reflexão mais autoral, o tom da narrativa assume outros coloridos mais complexos que envolvem a obra inteira. À beira do caminho sinaliza, de modo bastante explícito, suas intenções, que, sem dúvida, são boas e a serviço de uma causa justa: a superação dos traumas humanos. Mas é nessa mesma base, que, muitas vezes, as redundâncias que circundam o drama e o fazem avançar não conseguem envolver o espectador de modo mais intenso e participante. Parte desse clima é quebrado pela excelente interpretação de João Miguel no papel do personagem central do filme, embora todo o elenco esteja também afinado e traduzindo convincentemente seus personagens. A outra parte que conduz o espectador a aderir ao filme é a paisagem mutante de um road movie, como se convenciona chamar os filme de viagens terrestres, em que a fotografia, neste caso de Lula Carvalho, ressalta os valores de uma contemplação geográfica que sempre agrada à visão humana. Algumas sinalizações curiosas, colhidas nas traseiras de caminhões, colorem o drama, assim como, a presença de músicas do Roberto Carlos. São referências que dão vida e dignidade ao filme. * Professor da PUC-Rio e crítico de cinema |