quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Celebrar ou não celebrar o Halloween?



Entrevista com Paolo Gulisano, autor de um livro sobre o tema

ROMA, segunda-feira, 30 de outubro de 2006 (ZENIT.org).- Grandes abóboras vazias iluminadas em seu interior, como se fossem caveiras, esqueletos e sombrias figuras encapuzadas, risadas assustadoras e um estribilho obsessivo; doce ou brincadeira? Tudo isso é Halloween, uma moda, uma festa, um novo costume que se impôs nos últimos anos, graças, em parte, à persuasão do cinema e da televisão.

A festa de Halloween se introduziu inclusive nas escolas de países nos quais há apenas alguns anos se desconhecia a existência da festa: em muitos centros escolares, desde a escola primária à superior, os professores organizam a festa junto aos alunos, com jogos e desenhos.

O tema de Halloween foi abordado em todos seus aspectos pelo escritor italiano Paolo Gulisano, autor de numerosos ensaios sobre literatura de fantasia e sobre a cultura anglo-saxônica. Junto à pesquisadora irlandesa, residente nos Estados Unidos, Brid O’Neill, publicou nestes dias em italiano um livro titulado «A noite das abóboras» («La notte delle zucche», editora Ancora).

Para aprofundar no significado da festa de Halloween, Zenit entrevistou Paolo Guiliano.

--Em alguns setores, ante a expansão de Halloween, começou a manifestar-se uma certa preocupação. O que você pensa ao respeito?

--Guliano: É verdade. Há quem vê no Halloween um retorno a formas de «paganismo» e quem, ao contrário, vê um rito folclórico e de consumismo, uma espécie de inócuo carnaval fora de temporada. O fato é que ninguém recorda, não só entre as crianças e jovens e no âmbito mediático popular, a festividade cristã que Halloween está suplantando, Todos os Santos. Em 1º de novembro se confundiu com a comemoração dos Fiéis Defuntos, que cai na realidade no dia seguinte.

--Mas o que significa Halloween?

--Gulisano: O nome Halloween é a deformação americana do termo, no inglês da Irlanda, «All Howllows’ Eve»: Vigília de Todos os Santos. Esta antiqüíssima festa chegou aos Estados Unidos junto com os imigrantes irlandeses e lá se enraizou, para sofrer recentemente uma radical transformação. Das telas de Hollywood, a moda de Halloween chegou assim desde há alguns anos à velha Europa e a outras partes do mundo. Detrás de Halloween está uma das mais antigas festas sagradas do Ocidente: uma festa que atravessou os séculos, com usos e costumes que se foram redefinindo no tempo, mas que conservaram o mesmo significado. Suas origens, o significado dos símbolos, são, contudo, desconhecidos para a maioria.

--Mas a festa se remonta ao paganismo dos celtas. Em 1º de novembro, era para eles o primeiro dia do ano, a festa na qual os espíritos buscavam corpos para reencarnar-se. A Igreja, na Idade Média, substituiria esta tradição pela festividade de Todos os Santos, que é seguida depois pelo dia dos Fiéis Defuntos.

--Gulisano: Exato. Halloween não é mais que a última versão, secularizada, de uma ortodoxa festa católica, e em meu livro procurei explicar como pôde suceder que uma tradição plurissecular cristã tenha se convertido no atual carnaval de terror. Digamos antes de tudo, que a origem deste último fenômeno, Halloween, é completamente americana. Nesse país, ao que chegaram milhões de imigrantes irlandeses, com sua profunda devoção pelos santos, se tratava de um culto muito fastidioso para a cultura dominante, de caráter puritano. Deste modo, em sua atual versão secularizada, buscou-se descartar o sentido católico de Todos os Santos, mantendo em Halloween o aspecto lúgubre do mais além, com os fantasmas, os mortos que se levantam dos túmulos, as almas perdidas que atormentam aos que em vida lhes fizeram dano: um aspecto que se tenta exorcizar com as máscaras e as brincadeiras.

Obviamente, o velho continente não podia permanecer muito tempo sem adotar o novo «culto». De fato, vemos Halloween difundir-se cada vez mais entre nós com seu cortejo de artigos de consumo mais ou menos macabros -- caveiras, esqueletos, bruxas -- que não se propõe como uma forma de neopaganismo, nem como um culto esotérico, mas simplesmente como uma paródia da religiosidade cristã autêntica, com fins preferentemente consumistas: vender produtos de carnaval (o chamado mercado de Halloween), máscara, caveiras, abóboras, capas, gorros e outras coisas, além de espaços publicitários nos filmes de horror emitidos pelas emissoras de televisão. Halloween se propõe comercialmente como uma festa jovem, divertida, diferente, «transgressiva»; a pessoa se disfarça de fantasma, bruxa ou zumbi para ir a alguma festa...

--Contudo, Halloween não pode ser considerado simplesmente como um fenômeno comercial ou como um segundo Carnaval...

--Gulisano: Certamente. É importante conhecer e saber valorizar bem suas raízes culturais, e também as implicações esotéricas que se sobrepuseram ambiguamente a esta data. O dia 31 de outubro, com efeito, se converteu em uma data importante para o esoterismo, em cujos textos encontramos estas definições: «Volta do Grande Sabba [encontro entre as bruxas e Satanás, ndr.] quatro vezes ao ano... Halloween, que é talvez a festa mais querida»; «Samhain [festa celta de 1º de novembro, ndr.] é o dia mais mágico de todo o ano, ano novo de todo o mundo esotérico». O mundo do oculto a define assim: «é a festa mais importante para os seguidores de Satanás». A data de uma importante celebração de cultura celta antes e da cristã depois passou a fazer parte do calendário do ocultismo.

--Então, o que se deve fazer no dia 31 de outubro?

--Gulisano: Na minha opinião, pode-se e deve-se fazer festa. Em 1º de novembro, que foi o Ano Novo celta e depois Todos os Santos, é uma festividade extraordinária para os cristãos, e não vale a pena deixá-la nas mãos de charlatões e ocultistas. Não é preciso ter medo do Halloween «mal», e por isso é preciso conhecê-lo bem. Halloween, de qualquer forma, não pode ser ignorado, já faz parte já do cenário de nossos tempos. O que fazer, portanto?

Educadores e famílias deveriam mobilizar-se contra a falta de educação, de bom gosto, contra a profanação do mistério da morte e da vida após a morte, mas não é fácil ir contra a corrente, desafiar as modas que imperam em nossa sociedade.

Então, pode-se fazer festa em Halloween, recordando o que este dia significou durante séculos e o que continua testemunhando. Deve-se salvar Halloween, dando-lhe todo seu antigo significado, liberando esta festa da dimensão puramente consumista e comercial e, sobretudo, extirpando a pátina de ocultismo sombrio de que foi revestida.

Portanto, eu aconselharia organizar a festa e explicar claramente que se está festejando os mortos e os santos, de forma positiva e inclusive engraçada, para que as crianças sejam educadas em uma visão da morte como um acontecimento humano, natural, do qual não se deve ter medo.

Fonte: Zenit.org