O
Sacramento da Reconciliação também pode ser chamado de Penitência ou Confissão.
Por este sacramento, o cristão recebe da misericórdia de Deus o perdão de seus
pecados e, ao mesmo tempo, é reconciliado com a Igreja, à qual feriu com o
pecado.
Tivemos
o evento “24 horas para o Senhor”, organizado pelo Pontifício Conselho para a
promoção da nova evangelização e aberto pelo Papa Francisco em Roma. Tempo para
oração, adoração, pregação e confissão. Agora é tempo dos “mutirões de
confissões”, quando um grupo de padres da mesma forania ou região atende os
fiéis em uma paróquia, dando oportunidade de confessores para distribuir a
misericórdia de Deus.
O
pecado é uma ofensa a Deus; somente Ele pode perdoá-lo! Jesus, que é Deus
bendito, tem o poder de perdoar os pecados: “O Filho do homem tem o poder
de perdoar os pecados sobre a terra” (Mc 2,10). Este poder Ele concedeu à
Igreja, para que o exerça em seu nome: “Tudo isso vem de Deus, que nos
reconciliou consigo por Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação”
(2Cor 5,18); “O que ligares na terra será ligado no céu, e o que desligares na
terra será desligado nos céus” (Mt 16,19); “Em verdade vos digo: tudo quanto
ligardes na terra será ligado no céu e tudo quanto desligardes na terra será
desligado no céu” (Mt 18,18).
As
passagens acima citadas são claras: o Cristo, único que pode perdoar os
pecados, Deus deu à sua Igreja o poder de perdoar os pecados em Seu nome!
Ligar, desligar significa, na linguagem rabínica do tempo de Jesus, excluir da
comunhão com Deus e com a comunidade e acolher novamente na comunhão com Deus e
a Igreja. Vale a pena ainda citar Jo 20,22s: “Recebei o Espírito Santo.
Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais
retiverdes, ser-lhes-ão retidos”. Na potência do Espírito do Cristo
ressuscitado, a Igreja continua a obra do Senhor Jesus de perdoar, em seu nome,
os pecados. Aparece, portanto, com clareza, que a Igreja recebeu esta
autoridade por parte do próprio Cristo.
Podemos
perguntar: qual o remédio para o pecado? A resposta é uma só: uma contínua
conversão pela penitência. A penitência são as atitudes e gestos que revelam a
mudança interior, a conversão do coração. O Catecismo da Igreja Católica
explica que “a conversão interior impele à expressão exterior com gestos e
sinais visíveis, gestos e sinais de penitência” (n. 1430). E o Catecismo completa,
de modo muito preciso: “A penitência interior é uma radical reorientação de
toda a vida, um retorno, uma conversão a Deus com todo o coração, uma ruptura
com o pecado, uma aversão ao mal, juntamente com a reprovação das más ações que
cometemos” (n. 1421).
Observe-se
bem que: quando falamos de sacramento da Penitência, estamos falando de uma
profunda atitude de penitência! É que não tem sentido o sacramento sem a
atitude interior; de nada adianta confessar-se sem o sincero sentido do pecado
e o firme propósito de conversão! Desde já vai aparecendo claro que o
Sacramento da Penitência insere-se numa atitude mais ampla de volta a Deus e no
profundo sentido existencial de que somos pecadores. Como diz o Salmista: “Um
coração despedaçado e triturado, ó Deus, não rejeitarás! Cria em mim um coração
puro, ó Deus; enraíza em mim um espírito novo” (Sl 51,19.12).
Recordemo-nos
que o pecado é uma ruptura da comunhão com Deus que nos desarruma interiormente
e nos faz também romper com os irmãos na fé. O pecado provoca sempre uma ferida
não só em nós mesmos, mas também em todo o Corpo de Cristo, que é a Igreja: eu
me torno um membro ferido do Corpo de Cristo, prejudicando todo o Corpo do
Senhor.
Assim,
o perdão nos restitui a amizade de Deus, a sua graça em nós, dando-nos a
verdadeira paz interior, sendo uma verdadeira ressurreição espiritual. É
importante notar que essa paz é dada mesmo quando eu não a sinto de modo
sensível. Não se trata de sentimentos, mas da realidade do Sacramento, que é
ação de Cristo e da Igreja.
O
Sacramento também nos reconcilia com a Igreja, comunhão dos irmãos em Cristo,
de quem o pecado nos separa. Assim, eu me torno mais forte, pois novamente
estou em comunhão com meus irmãos e com a vida da Igreja, que é dada na Palavra
do Senhor e nos sacramentos, sobretudo na Eucaristia. É importante notar ainda
que a Reconciliação fortalece também a Igreja, pois cada membro seu que é
curado de seu pecado fortalece todo o Corpo de Cristo.
Nenhum
pecado e nenhuma graça são totalmente individuais, mas têm repercussão na
Igreja toda!
A
Reconciliação é também, em certo sentido, uma antecipação do juízo do Senhor,
dando-me a oportunidade de escolher entre a vida e a morte já, agora! Além do
mais, ajuda-me muitíssimo a que me mantenha unido ao Senhor pela atenção da
minha consciência, pelo cuidado em vigiar para não mais pecar. O sacramento
deixa-me mais forte no combate contra o pecado e minhas más tendências!
A
Igreja pede que pelo menos uma vez ao ano, na Páscoa do Senhor, nos confessemos
e comunguemos. Aqui, é necessário deixar bem claro que isto é o mínimo que se
pede! Quem ama não dá o mínimo; procura dar o máximo. Assim, o Sacramento da
Confissão é um meio de caridade, pois, através deste chegamos a reconciliar com
Deus, com a comunidade e conosco mesmo. Isso é de suma importância para a
caminhada cristã e para o nosso processo de conversão.
Por
isso, eis que, como pastor, recomendo a todos neste tempo quaresmal a se
aproximarem dos confessionários para receber as bênçãos de Deus.
Orani João,
Cardeal Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ