Mais uma vez
nossos olhos e ouvidos voltam-se e abrem-se para um novo apelo: combater a fome
no mundo. Certa vez, Madre Tereza de Calcutá disse: “Meu Deus, como dói esta
dor desconhecida...” referindo-se aos pobres, famintos e doentes moribundos nas
sarjetas. Por isso, fiel ao meu ministério a Cristo e à Igreja uno-me ao Santo
Padre, o Papa Francisco, que abriu a Campanha Mundial da Caritas Internacional contra
a fome no mundo, lançada no Vaticano com a presença de mais de 30 mil fiéis na Praça
de São Pedro, no último dia 10 de dezembro, aniversário da Declaração Mundial
dos Direitos Humanos. Em unidade com toda a Igreja e aos milhões de irmãos que
sofrem, também digo: “meu Deus, como dói esta dolorosa dor da fome”.
O Papa Francisco
exorta os católicos, governantes e toda sociedade civil para um total
engajamento, a fim de erradicar aquilo que ele chama de “escândalo da fome”. O
Papa convida para que todos se juntem ao slogan da Campanha da Cáritas: “Uma
só Família humana, alimento para todos”.
Os números não
negam, nos surpreendem, apavoram e até enganam... Mas, por que enganam? Porque
até o final da leitura deste artigo, que você levará em torno de dois minutos,
estes números que aqui serão apresentados já não serão mais os mesmos... Milhares
já terão morrido de fome enquanto você estiver lendo isto... Outros entrarão
para o cinturão da miséria. Afinal, segundo a FAO (Organização das Nações
Unidas para a Agricultura e Alimentação), a cada minuto 12 crianças morrem de
fome no mundo. Vejamos algumas estatísticas:
Segundo a última
informação divulgada pela ONU (Organização das Nações Unidas), na terça-feira,
dia 10 de dezembro p.p., uma em cada oito pessoas sofre de fome crônica no
mundo. Seriam aproximadamente em torno de 842 milhões de pessoas subnutridas,
ou seja, pessoas que não possuem alimentos necessários para uma vida saudável e
ativa. Muitos esforços são empreendidos pelos Governos e muitas frentes não
governamentais, mas o que se observou foi que desde 2010 até 2013 apenas 26
milhões de pessoas foram resgatadas dessa margem de pobreza e miséria. O
Brasil, apesar de todos os esforços e sua riqueza produtiva de alimentos, tem
16 milhões de pessoas que estão em estado de fome crônica. Se for pensar em investimentos concretos, então pense que serão
necessários no mínimo 30 bilhões de dólares por ano para erradicar a fome no
mundo. Isso não chega aos 10% do que os EUA investem por ano em armamento (US$
450 bilhões). Permitam-me reproduzir abaixo um gráfico apresentado pela FAO:
• 814,6 milhões de famintos nos países em desenvolvimento (como
China, Bolívia, Angola...)
• 28,3 milhões de famintos em países de transição (como Rússia, Croácia, Ucrânia...)
• 53 milhões de famintos na América Latina
• 9 milhões de famintos nos países industrializados (como Alemanha, Estados Unidos, Austrália)
• 15,6 milhões de famintos no Brasil
• 5 milhões de crianças morrem de FOME por ano: uma morte a cada 5 segundos
• Com US$ 25 milhões por ano, seria possível reduzir drasticamente a desnutrição nos 15 mais famintos países da África e da América Latina e salvar da fome pelo menos 900 mil crianças até 2015.
• 28,3 milhões de famintos em países de transição (como Rússia, Croácia, Ucrânia...)
• 53 milhões de famintos na América Latina
• 9 milhões de famintos nos países industrializados (como Alemanha, Estados Unidos, Austrália)
• 15,6 milhões de famintos no Brasil
• 5 milhões de crianças morrem de FOME por ano: uma morte a cada 5 segundos
• Com US$ 25 milhões por ano, seria possível reduzir drasticamente a desnutrição nos 15 mais famintos países da África e da América Latina e salvar da fome pelo menos 900 mil crianças até 2015.
A situação é dramática e desencontrada quando se quer mostrar
algum gráfico brasileiro. Fontes do IBGE (34 milhões) e Fundação Getúlio Vargas
(50 milhões) apontam divergências enormes de pessoas abaixo do nível de pobreza
no Brasil. Já os índices oficiais apontam níveis mais esperançosos: apenas 24
milhões de brasileiros passam fome no Brasil, já que aqui se tem o programa “Fome
Zero”.
Olho para o
pronunciamento do Papa, como “A Carta que o Papa Francisco escreveu à
humanidade”. Uma carta que leva o selo da solidariedade postada no correio da
caridade fraterna e cristã para os destinatários de todos os credos, raças,
línguas e nações. São palavras tão claras e profundas que reproduzem o evento
do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, quando Jesus, diante daquela
multidão faminta, delega seus discípulos à distribuição do pouco que possuíam:
pães e peixes. A graça divina agiu naquele momento e todos ficaram saciados, as
sobras foram recolhidas para novas necessidades e nada foi desperdiçado. “A
parábola da multiplicação dos pães e dos peixes nos ensina justamente que se
houver vontade, o que temos não vai acabar, ao contrário, vai sobrar, e não
deve ser perdido. Por isso, queridos irmãos e queridas irmãs, convido-os a
abrir um espaço em seus corações para esta urgência, respeitando o direito dado
por Deus a todos de ter acesso a uma alimentação adequada.”
Chamo atenção
para o substantivo urgência que o
papa sublinha afinal, na rotina de uma pessoa nos alimentamos pelo menos três
vezes ao dia enquanto estes aqui citados nas estatísticas da ONU o alimento é a
preciosidade do “de vez em quando”. Outro elemento forte na carta do Papa é a
expressão “se houver vontade”; ali o
Papa Francisco está convocando em primeiro lugar os Governos e em seguida toda
sociedade civil para uma verdadeira “vontade política” de abertura, conversão e
distribuição dos alimentos. Em outro momento, inclusive no encontro com os
estudantes universitários de Roma, o Papa pede para que não fiquemos olhando
pela janela e sim para que lutemos a fim de vencer a batalha contra a fome. Ali
está a batalha para de fato derrubar esta condicional “se houver”. Como o próprio Sumo Pontífice afirma: o “escândalo da
fome não pode nos paralisar”.
O desperdício de
alimentos que são jogados no lixo é um escândalo para a humanidade. Existem
projetos para o aproveitamento e assim alimentar os necessitados do mundo, mas
isso supõe, além das iniciativas de empresas e organizações, vontade política e
leis condizentes. O Papa lembrou mais de uma vez: se a bolsa de valores cai um
dígito é manchete mundial, se uma criança morre de fome em nosso planeta é
apenas um número na estatística.
Mas a Palavra de
Deus se torna sempre viva nos homens de fé e coragem que exortam a humanidade
para olhar os nossos irmãos com os olhos da solidariedade e com a mesma
sensibilidade com que Cristo olhava para os que mais sofriam.
Caríssimos,
diante desta dolorosa dor da fome, abramos nossos corações e nossos armários
para a verdadeira partilha e solidariedade. Em nossa Arquidiocese
do Rio de Janeiro estamos trabalhando na execução do Ano da Caridade. Procure a
sua Paróquia ou comunidade. Lá você encontrará todas as informações necessárias
para saber como interagir neste apelo que o Santo Padre nos faz. O nosso
Vicariato da Caridade Social, com as pastorais Sociais e entidades da
Arquidiocese, como a Caritas Arquidiocesana e outros, irá articular o nosso
trabalho deste ano que iniciaremos com a Trezena de São Sebastião, que tem como
lema: "SÃO SEBASTIÃO, DISCÍPULO DO AMOR E DA CARIDADE" e o texto
Bíblico referência é: "Se não tiver caridade, de nada adianta!" (1Cor
13,3).
Estejamos unidos
e façamos a diferença neste ano. Tudo isso é consequência da nossa missão
evangelizadora e o fato de encontrarmos Cristo na pessoa do irmão.
† Orani João
Tempesta, O. Cist.
Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ