Com o final do ano
litúrgico e o início de um novo, a liturgia nos ajuda a buscar o sentido último
de nossas vidas e a nos perguntar sobre o centro de nossa existência. Quando
celebramos na véspera da Solenidade de Cristo Rei a nossa Festa da Unidade foi
justamente com o enfoque de salientar como a centralidade de Jesus Cristo nos
leva à comunhão e à fraternidade. Ele nos dá o Espírito Santo, que nos une a
todos.
Nesses dias em
que nos preparamos para o ano da “caridade social” em nossa Arquidiocese ,
somos instados a refletir sobre o Reino de Deus. O Reino de Cristo é, antes de
tudo, o reino de verdade, o reino de graça, o reino de justiça e o reino de
misericórdia, como tem insistido, cotidianamente, o Santo Padre Francisco. O Reino
de Deus é reino em que nos inserimos com adesão livre e pessoal, e nós devemos
deixar que Nosso Senhor Jesus Cristo reine sempre na nossa vida; devemos
abrir-Lhe com alegria a porta do nosso espírito, fazê-Lo entrar na nossa vida
acolhendo a sua Palavra e respondendo a ela com a nossa diária fidelidade aos
nossos empenhos, com um posicionamento de vida que se baseie em efetivas opções
coerentes com a fé.
São João, no seu livro do Apocalipse, nos ensina que:
"Jesus Cristo, Aquele que nos ama e que com o Seu sangue nos lavou dos
nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus, Seu Pai" (Apoc 1, 5-6).
Jesus Cristo é um Rei que ama. O Seu Reino não passará jamais. Não passará o
Reino d'Aquele "que nos ama e que com o Seu sangue nos lavou dos nossos
pecados e nos fez reis e sacerdotes para Deus, Seu Pai". Não passará o
Reino da verdade, do amor, da graça e do perdão.
Nosso Senhor Jesus Cristo foi elevado na cruz como um Rei
singular: como a eterna Testemunha da verdade. Se nasci, se vim a este mundo,
foi para dar testemunho da verdade. Este testemunho é a medida das nossas
obras. A medida da vida. A verdade por que Cristo deu a vida, e que confirmou
com a ressurreição, é o princípio fundamental da dignidade do homem.
O reino de Jesus Cristo manifesta-se, como ensina o Concílio
Ecumênico Vaticano II, na "realeza" do homem. É necessário que, a
esta luz, nós saibamos participar em todas as esferas da vida contemporânea e
saibamos formá-la. Nos nossos tempos não faltam, de fato, propostas dirigidas
ao homem, não faltam programas que se apregoam fomentarem o seu bem. Saibamos
relê-los à luz da plena verdade sobre o homem, da verdade confirmada com as
palavras e com a cruz de Cristo! Saibamos discerni-los bem! Especialmente neste
Ano da Caridade necessitaremos muito dessa luz.
Jesus, o Filho do Homem, o juiz supremo das nossas
vidas, quis assumir o rosto daqueles que têm fome e sede, dos estrangeiros, dos
que estão nus, doentes ou presos, dos que não têm moradia, ou dos que são subjugados
pelas guerras urbanas ou nacionais… enfim, de todas as pessoas que sofrem ou
são marginalizadas ou não conseguem viver a paz que vem do Evangelho. Jesus, o
Filho de Deus, tornou-Se homem, partilhou a nossa vida mesmo nos detalhes mais
concretos, fazendo-Se servo do mais pequenino dos seus irmãos. Ele que não
tinha onde repousar a cabeça seria condenado a morrer numa cruz.
Para que caminhemos com Cristo e
com Ele cheguemos à visão beatífica é necessário que experimentemos e tenhamos
misericórdia. A misericórdia é a nota fundamental que abre as portas do Reino
do Céu. Vamos viver bem este tempo do Advento com atos de unidade e de
evangelização, indo ao encontro dos que estão detidos, dos que estão doentes,
dos que estão afastados e que desejam voltar para a unidade com Cristo e com a
Igreja. Preparemo-nos para abrir o novo ano civil com a trezena e festa de São
Sebastião como Ano da Caridade. O tema será “São Sebastião, discípulo do amor e
da caridade”, inspirado no texto bíblico: “Se eu não tiver caridade, de nada
adianta” (1Cor, 13,3).
Na Festa da Unidade
Arquidiocesana demos testemunho do Reino de Deus e da
comunhão entre nós reconhecendo a ação de Deus em nossa vida e história. Isso
significa fazer sobressair sempre a prioridade de Deus e da sua vontade face
aos interesses do mundo e dos seus poderes. Vivamos como imitadores de Jesus,
que manifestou a sua glória: a glória de amar até ao fim, dando a própria vida!
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ